Até agora nada.
4 de janeiro de 2008. São Paulo. Terminal Rodoviário da Barra Funda. Estava viajando em férias, e por problemas de espaço não pude levar minha cadeira de rodas. Para me locomover emprestei uma que precisava ser devolvida até às 6 da tarde. Devolvemos a cadeira e fomos pra rodoviária, porque pensamos: “Qualquer farmácia tem. Lá deve ter”. Ledo engano. Nosso ônibus era às 22:45 e até esse horário não conseguimos que o terminal disponibilizasse a cadeira para eu andar durante as quase cinco horas que teria de ficar ali. Não puderam disponibilizar porque só tinham UMA cadeira de rodas – num terminal que recebe milhões de pessoas por dia – e essa cadeira era APENAS utilizada em casos de emergência. Eu, aparentemente, não era um desses casos. O gerente de uma lan house viu o que estavam fazendo com a gente e me emprestou uma cadeira de computador com rodinhas. Mais tarde, ao embarcar, perguntei ao encarregado se alguém havia precisado da cadeira durante o tempo em que eu estive ali. Ele não respondeu. Seu silêncio foi a minha resposta.
14 de fevereiro de 2008. Campo Grande, Hospital Universitário. Sempre quis doar sangue. Um dia eu precisei, queria retribuir. Passei um ano morando muito perto do HU e falando todos os dias que ia doar, sem nunca ir. Quando falaram do trote solidário dos calouros eu, mesmo sem ser caloura, tomei a iniciativa de ir. Fomos eu e meu irmão. Como é aqui perto, quis ir de muletas. Não me parece ter sido a decisão mais acertada.
Primeiro, não acreditavam que eu tivesse 19 anos e me chamaram de “fraquinha”. Tenho 3 quilos a mais do que o exigido para doar, não tomo nenhum tipo de remédios, não tomei vacinas nos últimos tempos, nem tenho doenças contagiosas. Fiz a triagem necessária, e também não tenho anemia. Mas parece que eles não queriam que eu doasse sangue. Perguntaram: “O que você tem?” E eu respondi naturalmente: “Paralisia cerebral”. Porque sei que isso não é motivo para negarem a minha ajuda. Daí eles falaram assim: “Você teve parada cardíaca?” “Não, nunca tive”. “Ah, mas se você doar, pode ter uma convulsão”. Daí eu falei “acredito que não. Nunca tive nada parecido”. “Olha, você não precisa doar”. “Mas eu quero doar, eu POSSO doar”. E a responsável dizendo: “Você vai me entender, mais tarde você vai entender”. A essa hora a minha indignação beirava o limite da raiva e das lágrimas, porque eu tinha planejado aquele dia um tempão: “Entender o quê? Que vocês não têm sangue porque negam a doação de pessoas saudáveis como eu? Eu já entendi, obrigada.”
Com esse último baque, entendi mais que isso. Entendi que mesmo os que a gente supõe que sabem e conhecem doenças podem ser ignorantes – os médicos. Eles mesmos que estudaram no minímo 6 anos de suas vidas sobre o assunto. Eles em que depositamos boa parte da nossa confiança. Após tudo isso eu só tenho uma pergunta:
Será que o Brasil é mesmo o país da diferença?
3 comentários:
Oi Aline, parabéns pelos textos!
Pra mim,o Brasil é sim o país da difereça, mas infelizmente, também é o país da INTOLERÂNCIA!
Aline! Ótimo texto! E em 20 minutos!
É, aqui temos indignação... mas por motivos dignos, nobres. Acho que escrever também se torna um desabafo. Que seus escritos desabafem os "abafa o caso"... Beijão!
Ainda não li inteiro porque estou no trabalho, mas quando terminar eu falo! HAha, detalhe, sei q ele vale mto bem como denúncia, mas vou me ater a construção dele ok!?
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